Falta pouco para o DVD “Ao Vivo
em Floripa”, de Victor e Leo, chegar às lojas. O novo trabalho da dupla, que
entra no mercado no início de agosto (o CD já está disponível), traz um show
com quase duas horas de música e transita pelo rock, reggae, samba e forró, sem
perder a essência sertaneja dos irmãos.
Na gravação, que aconteceu em 28
de março em Florianópolis, a dupla contou com as participações de Paula
Fernandes, Chitãozinho e Xororó, Thiaguinho,
Marciano, Nice, Nando Reis,Gabriel Grossi, Haroldo Ferretti, Pepeu Gomes
e Zezé di Camargo e Luciano. Aliás, a parceria entre os anfitriões e os filhos
de Francisco na canção “Quando você some” é um dos destaques do álbum.
Assim como acontece em todos os
outros trabalhos, da dupla, Victor e Leo optaram por seguir uma linha mais
clássica (incrementadas com os solos de guitarra de Victor) e fugiram dos hits
que tanto ganharam espaço na mídia nos últimos tempos, inclusive no exterior. E
Leo explica essa fuga. “A gente se caracteriza principalmente por fazer música
original, a primeira coisa que a gente sempre foca é fazer algo novo. A gente
até brincou: qual é a moda? A gente fica ligado na moda para fugir dela”.
Em um bate papo com a coluna,
além de falar do DVD, Victor e Leo analisaram o atual cenário musical. “Eu
acredito que, o cara para fazer jus ao gênero sertanejo, tem que ter alguma
ligação com o sertão. Se ele não tem nenhuma ligação, se a música dele não tem
ligação nenhuma com o sertão, não sei o que é, mas sertanejo não é”, afirmou
Victor.
Confira o bate papo com a dupla.
iG: Muitas vezes, o artista vê o
resultado do trabalho e sente que poderia ter feito algo diferente. Vocês
ficaram satisfeitos do novo DVD?
Leo: A gente é muito autocrítico.
Sempre quando a gente faz um projeto novo, vão passando alguns dias, algumas
semanas, a gente começa a enxergar uma
ou outra coisinha que a gente, talvez, poderia ter feito diferente. Mas como é
ao vivo, a gente deixa do jeito que foi feito. Cheios de suor, de camisa
amarrotada, e a música às vezes com uma falha ou outra na sonoridade, na
bateria, na guitarra, no violão, e voz também.
Victor: Eu adorei o resultado.
Com o tempo, você acaba priorizando o todo. E o todo, na minha opinião, está
maravilhoso. É um DVD sincero, franco, e como o Leo disse, ao vivo. A maioria
das pessoas grava um DVD ao vivo em estúdio e bota como se fosse ao vivo. Essa
não é nossa realidade e ela pode ser sentida assistindo.
iG: O DVD de vocês tem forró,
samba, rock, reggae e, claro, sertanejo. Musicalmente falando, como vocês
classificam esse trabalho? Em que categoria, que prateleira da loja, vocês o
colocariam?
Victor: Colocaria no “V”, de
Victor e Leo. Tem folk, rock, reggae…e ”V”. Que é isso? É uma mistura de um
monte de coisa. Apesar de a gente ter na música sertaneja raiz a nossa maior
essência, a gente tem em tudo quanto é estilo, seja brasileiro ou
internacional, referências fortes. A gente ouviu de tudo, de Dire Straits a
Tião Carreiro e Pardinho. Agora, somos caipirões, somos criados na roça, no
campo. De alguma maneira, a parte mais forte da nossa música está na música
sertaneja, que retrata o que a gente viveu de verdade.
Leo: Acho que isso é retrato do
que eu e o Victor sempre fomos, mesmo antes de cantar. É um retrato do que a
gente sempre se espelhou, sempre escutou. Dois adolescentes que cresceram
ouvindo música sertaneja de raiz, trio Parada Dura, Sérgio Reis, Almir Sater,
Renato Teixeira, Chitãozinho e Xororó, Milionário e José Rico e uma série de
outros nomes, e ao mesmo tempo Guns n’ Roses, Eagles, Bon Jovi, Dire Straits,
Blues, várias outras vertentes musicais.
iG: Vocês citaram várias
referências da música sertaneja e, recentemente, no aniversário de Milionário,
muitas desses nomes mencionaram vocês como a dupla que seguirá no mercado. Como
é ser reconhecido por aqueles em quem vocês se espelharam?
Leo: A gente recebe isso como um
reflexo do que a gente faz, do que a gente tem implantado nesses anos todos. A
gente se caracteriza principalmente por fazer música original, a primeira coisa
que a gente sempre foca é fazer algo novo. A gente até brincou: qual é a moda?
A gente fica ligado na moda para fugir dela.
Victor: Ao mesmo tempo a gente
fica muito honrado, porque esses caras, como o Milionário, são referências
fortes demais pra gente. Se hoje eles estão de alguma maneira reconhecendo
nosso trabalho e elogiando, a gente retribui agradecendo a eles por serem um
exemplo pra que a gente toque a carreira dessa maneira.
iG: Vocês tem as músicas mais
clássicas, como você falou, fugindo do que é moda, do hit. Como é ver a
Billboard americana, afirmar que o sertanejo está em alta, em ascensão, e não
citar vocês?
Victor: A palavra sertanejo tem
que vir do sertão. Se ela não vier do sertão de alguma maneira, ela é um engano
de quem está achando que aquilo é sertanejo. Isso é nossa opinião. Tem um monte
de coisa aí dita como sertaneja, que de sertanejo não tem absolutamente nada,
nem o cabo da vassoura. A música sertaneja passou por diversas modificações,
mas não perdeu sua essência. Se eu citar, dentro do nosso repertório, canções
como “Deus e eu no sertão”, “rios de amor”, “noite estrelada”, “vida boa”,
essas canções falam do sertão de uma maneira mais nova, entendível para as
novas gerações, mas elas continuam lá, falando do velho fogão a lenha. De um
tempo para cá, a palavra sertanejo veio perdendo seu sentido completamente. Eu
respeito tudo, respeito até a falta de idealismo, mas não vou me misturar a ele
e não vou ser conivente a isso.
Leo: Às vezes o cara nunca soube
o que é música sertaneja, mas ele está falando que é sertanejo porque o gênero
está em alta. Por um outro lado, todos os artistas que conquistaram um público
fora do Brasil, é mérito do cara. A gente respeita e não se vê fora disso de
uma forma incomodada. Se algum dia, a gente estiver lá, acho ótimo. Também não
vou ser hipócrita e dizer que não quero meu nome citado na Billboard, pelo amor
de Deus. Quero crescer o quanto eu consiga, acho que faço meu trabalho pra
isso, pra alcançar, atingir mais pessoas, pra crescer. A gente respeita tudo,
embora a gente não classifique todo mundo como sertanejo.
iG: Como vocês classificam,
então?
Victor: Na verdade, a gente não
classifica.
Leo: Particularmente, não me vejo
em uma posição de classificar. Acho que é o público que tem que classificar.
Victor: Se quando você canta
“Saudade de minha terra” e, aí, você canta uma outra coisa, dos tempos atuais,
o que é sertanejo? Fica muito difícil, muito distante. Eu acredito que, o cara
para fazer jus ao gênero sertanejo tem que ter alguma ligação com o sertão. Se
ele não tem nenhuma ligação, se a música dele não tem ligação nenhuma com o
sertão, não sei o que é, mas sertanejo não é.
iG: Isso que vocês falaram de não
vir do sertão, vocês também ouviram quando iniciaram a carreira. A primeira vez que participaram do Faustão,
por exemplo, ele perguntou diversas vezes o que vocês faziam, se tinham vindo
da roça, pediu para vocês cantarem sucessos antigos em vez de músicas de vocês.
E, ali, vocês mostraram a que vieram. Vocês sofreram preconceito por não terem
a história, por exemplo, de Chitão e Xororó, Zezé e Luciano?
Victor: Sim, nos próprios
botecos. Nosso início em São Paulo, por exemplo, a gente já cantava há dez
anos, e as pessoas nos botecos falavam: “esses caras aí, esses bonitõezinhos,
não cantam nada”, antes mesmo de a gente cantar.
Leo: E a gente não tinha medo de
ouvir não. Os caras hoje tem muito medo de ouvir não.
Victor: Se o cara não aceitava,
dizia: “vocês cantam em uma região muito mediana, não gritam. Tem que gritar,
malhar veia”. Nós estudamos canto cinco anos e aprendemos que cantar é o
contrário de gritar. Culturalmente falando, a gente tinha que tomar uma dose a
mais de paciência para poder mostrar o trabalho como ele era e conquistar nosso
próprio público devagar.
Leo: A gente sofreu preconceito
tanto na noite quanto quando a gente apareceu no mercado, que as pessoas…enfim,
não vou dizer esse detalhe no Faustão, mas algumas pessoas nos viam como uma
coisa nova, diferente do que estava acontecendo há algum tempo.
Victor: Acho que alguns artistas
tem medo da rejeição, por isso que a maioria imita. Mas vou dizer, a gente não
usava aquelas botas com bico fino. Tem um monte de dupla que usa, mas nunca foi
o nosso estilo. Nem na roça a gente usava. A gente usava mais botina, tênis.
Prefiro ser eu. Tem um monte de gente usando bota e chapéu, cantando gato por
lebre.
iG: Vocês são um pouco avessos
para falar de vida pessoal, e tem muito fã que gostaria de saber um pouco mais
do que acontece com vocês longe dos palcos, por trás das câmeras. Até que ponto
vocês acham que isso não pode atrapalhar na carreira, e de repente as pessoas
taxarem vocês como metidos, arrogantes ou algo assim?
Leo: Na verdade, não sei se
atrapalha na carreira. Acho que vai atrapalhar na vida pessoal. Vejo dessa
forma. Eu tenho dois filhos e uma esposa, que eu evito expor excessivamente. Em
algumas situações, já estive com Tatiane em alguns lugares, eventos, uma coisa
natural, nada forçado assim: “vamos em tal evento para aparecer em tal
revista…”.
Victor: Se por preservar minha
vida pessoal, eu tiver que ser chamado de metido, eu prefiro preserva-la. Se
alguém me pergunta uma coisa que eu não queira expor, eu prefiro ao invés de
prejudicar alguém, ser taxado como antipático do que prejudicar meu lado
pessoal. Ele é mais valioso. Porque meu trabalho é música. Se as pessoas querem
saber quem eu amo, aí é um problema de quem quer saber, eu não tenho que
contar. Respeito quem expõe, mas esse não é meu perfil, do meu irmão.
iG: Pra finalizar, queria que
fizessem uma análise do mercado sertanejo hoje em dia e da carreira de vocês
dentro desse mercado.
Leo: (pensa um pouco para falar)
O mercado sertanejo, a música sertaneja, hoje é uma prostituição absoluta. Nego
compra música, rádio, show, contratante, compra isso, compra aquilo, e se
esquece do que o cara está fazendo por trás daquilo, que é a arte. Acho que é
até bom tudo isso, a gente continua fazendo nosso trabalho aqui, com uma
intenção bacana, como muitos outros continuam fazendo. Se um dia a gente voltar a ter, como a gente tinha em
tempo de boteco, um casal escutando a gente em frente a um show, a gente não
vai se vender. Vai continuar fazendo nossa música, sem fazer o que está
rolando.
Victor: Sintetizando é isso aí. A
música sertaneja está em baixa e a palavra sertaneja está em alta. É isso
mesmo!
FONTE: IG / POR MARÍLIA NEVES.
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