Para alguns a música sertaneja vive um dos seus melhores momentos, para outros, o gênero está em decadência. Esse conflito de opiniões deve-se ao novo estilo que o sertanejo foi rotulado, em razão do surgimento do “arrocha”.
A dupla Victor & Leo, e o cantor Jorge, da dupla com Mateus, tornaram-se manchetes em 2012 nos principais veículos de comunicação ao expressarem suas opiniões de forma bastante clara e contundente o atual momento da música sertaneja.
Em uma entrevista para um Portal de notícias, a dupla Victor & Leo fez duras criticas. Com letras monossilábicas e que falam de tudo quanto é marca de carro, para muitos especialistas da música, o mercado sertanejo perdeu um pouco de sua essência com boas letras e arranjos para dar lugar a outro estilo musical.
“A palavra sertanejo tem que vir do sertão. Se ela não vier do sertão de alguma maneira, ela é um engano de quem está achando que aquilo é sertanejo. Isso é nossa opinião. Tem um monte de coisa aí dita como sertaneja, que de sertanejo não tem absolutamente nada, nem o cabo da vassoura”, disparou Victor.
“Se quando você canta “Saudade de minha terra” e, aí, você canta uma outra coisa, dos tempos atuais, o que é sertanejo? Fica muito difícil, muito distante. Eu acredito que, o cara para fazer jus ao gênero sertanejo, tem que ter alguma ligação com o sertão. Se ele não tem nenhuma ligação, se a música dele não tem ligação nenhuma com o sertão, não sei o que é, mas sertanejo não é”, afirmou Victor.
Ainda segundo Victor, a música sertaneja teve diversas modificações ao longo dos anos, mas em nenhuma delas perdeu seu estilo.
“A música sertaneja passou por diversas modificações, mas não perdeu sua essência. Se eu citar, dentro do nosso repertório, canções como “Deus e eu no sertão”, “Rios de amor”, “Noite estrelar”, “Nida boa”, essas canções falam do sertão de uma maneira mais nova, entendível para as novas gerações, mas elas continuam lá, falando do velho fogão a lenha. De um tempo para cá, a palavra sertanejo veio perdendo seu sentido completamente. Eu respeito tudo, respeito até a falta de idealismo, mas não vou me misturar a ele e não vou ser conivente a isso. A música sertaneja está em baixa e a palavra sertaneja está em alta”, disse.
Especializada em informações sobre a indústria musical, recentemente a Revista Billboard divulgou que a música sertaneja está em alta, mas não citou o nome da duplaVictor & Leo entre os destaques do gênero. Mas, para Leo, isso não preocupa a dupla.
“Às vezes o cara nunca soube o que é música sertaneja, mas ele está falando que é sertanejo porque o gênero está em alta. Por um outro lado, todos os artistas que conquistaram um público fora do Brasil, é mérito do cara. A gente respeita e não se vê fora disso de uma forma incomodada. Se algum dia, a gente estiver lá, acho ótimo. Também não vou ser hipócrita e dizer que não quero meu nome citado na Billboard, pelo amor de Deus. Quero crescer o quanto eu consiga, acho que faço meu trabalho pra isso, pra alcançar, atingir mais pessoas, pra crescer. A gente respeita tudo, embora a gente não classifique todo mundo como sertanejo”, disse Leo.
Este ano, a dupla gravou o DVD “Ao Vivo em Floripa”, e Leo explicou a razão da dupla manter suas origens. “A gente se caracteriza principalmente por fazer música original, a primeira coisa que a gente sempre foca é fazer algo novo. A gente até brincou: qual é a moda? A gente fica ligado na moda para fugir dela”.
Para Victor, existem alguns artistas vendendo uma imagem diferente de suas origens. “Acho que alguns artistas têm medo da rejeição, por isso que a maioria imita. Mas vou dizer, a gente não usava aquelas botas com bico fino. Tem um monte de dupla que usa, mas nunca foi o nosso estilo. Nem na roça a gente usava. A gente usava mais botina, tênis. Prefiro ser eu. Tem um monte de gente usando bota e chapéu, cantando gato por lebre”, disse Victor.
Mesmo na contramão do atual momento da música sertaneja, a dupla afirmou que vai seguir cantando sertanejo, de verdade, e que se for preciso voltar ao bares para cantar para apenas uma casal, vai fazer com muito orgulho.
“O mercado sertanejo, a música sertaneja, hoje é uma prostituição absoluta. Nego comprar música, rádio, show, contratante, comprar isso, comprar aquilo, e se esquece do que o cara está fazendo por trás daquilo, que é a arte. Acho que é até bom tudo isso, a gente continua fazendo nosso trabalho aqui, com uma intenção bacana, como muitos outros continuam fazendo. Se um dia a gente voltar a ter, como a gente tinha em tempo de boteco, um casal escutando a gente em frente a um show, a gente não vai se vender. Vai continuar fazendo nossa música, sem fazer o que está rolando”, afirma Leo
Acompanhe trechos da entrevista do cantor Jorge para o jornalista André Piunti na qual ele também faz comentários sobre a música sertaneja:
“É visível pra todo mundo. Hoje você compra tudo, as pessoas aprenderam isso. Paga o jabá na rádio, compra a matéria, aparece na TV, então qualquer coisa é capaz de aparecer, por isso muita coisa ruim consegue espaço. Mas aparecer e fazer sucesso são coisas diferentes. Você pode estourar uma música ruim, ganhar uns trocados, comprar um carro bom, mas em menos de um ano você já tá de volta à estaca zero por não haver base. Não adianta querer explicar o que é uma carreira de sucesso pra alguém que tá feito louco atrás de um hit”.
“A gente chegou a uma situação insuportável, e acho que é um momento em que alguém precisa falar algo. O mercado nosso é podre, podre. Onde já se viu essa competição que acontece hoje entre duplas, entre escritórios? Nossas carreiras não são um jogo, ninguém tá competindo, ninguém vai ser campeão no fim do ano se fizer mais pontos. As pessoas estão equivocadas. Há uma briga de bastidores hoje entre os escritórios que só atrapalha. Hoje existem grupos isolados, escritórios que criam rixas com os outros, e isso não leva ninguém a nada. Enquanto você se preocupa demais com o que os outros tão fazendo, você tá deixando de se preocupar com seu trabalho. Eu tô com nojo, disso. Nojo”.
“Sem dúvida, e eu incluo o meu nisso. Os escritórios viraram ilhas e os artistas se fecharam em grupinhos. Tá todo mundo esquecendo que nós não somos nada, somos apenas cantores tentando fazer o que a gente mais gosta. A vaidade tá acabando com qualquer coisa boa que ainda restava nesse meio nosso. Se a nossa preocupação principal não for a música, a carreira tá com os dias contados”.
“Estamos criando uma geração de artistas iludidos. Música é mais dom do que meio de vida, não adianta o cara pensar que de repente música pode ser um trabalho como qualquer outro. Eu participo de festival de música desde os 8 anos de idade, e mesmo assim eu não pensava que música seria minha profissão. Essa ideia de artista como negócio, como lançamento de um produto qualquer, sem nenhuma verdade e espontaneidade, só faz criar iludidos que somem na mesma velocidade que aparecem”.
“De forma alguma. Isso que tá acontecendo musicalmente é passageiro. Vai estourar um ruim aqui, outro ali, mas a música sertaneja não cai, não some. O romantismo vai acabar voltando a ter mais destaque, nos shows a gente percebe a reação quando você canta uma música nova romântica”.
(Se aparecesse um empresário para investir num artista) “Sinceramente, eu mandava ele esperar. Calma, deixa essa loucura passar, ela vai passar. Com a música sertaneja, com a música romântica, ninguém acaba. Vai devagar, pensa numa carreira, pensa em repertório, em um trabalho concreto, e deixa a poeira baixar um pouco”.
“As pessoas se esqueceram completamente que quem escolhe o sucesso é o público. Não é o empresário, o cantor, o escritório ou o dinheiro. É o público. Você pode fazer barulho, reclamar, xingar, gastar dinheiro, mas se as pessoas não gostarem, você não é ninguém, a música não é nada. Você pode ter 5 milhões pra investir e gastar esses 5 milhões sem ter nenhum retorno”.
“Você já viu um show do Amado Batista? Já foi em um show do Leonardo? Aquilo é a resposta: povo. O sucesso quem escolhe é o povo, é a massa, é o lance da identificação, e isso parece ter sido completamente esquecido. É por isso que no meio você ouve falar de um monte de “sucesso”, mas quando chega na vida real, vê que é tudo mentira. Isso aqui é vida real”
FONTE: MUITO MAIS MÚSICA.