Música sertaneja é um negócio que rende milhões de reais por dia.
Das 100 músicas mais tocadas nas rádios, 59 são do novo estilo sertanejo
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Da música caipira tradicional ao sertanejo moderno, o mundo da música no Brasil acompanha uma enorme mudança e vê crescer um fenômeno comercial: das 100 músicas mais tocadas nas rádios brasileiras, 59 são desse novo estilo sertanejo. No geral, essas duplas não se esquecem de sua origem e de onde vem seu sucesso.
A música sertaneja é um negócio que rende milhões e milhões de reais por dia. É o setor que mais arrecada direitos autorais. A cada 10 shows feitos em festas do peão e feiras agropecuárias, sete são desse gênero.
Uma das duplas de maior sucesso do chamado sertanejo moderno é Victor e Léo. Mineiros de Abre Campo, a 220 km de Belo Horizonte, além de intérpretes, são compositores, arranjadores e produtores. As letras são poéticas e as composições têm muita força, o que faz deles uma dupla campeã.
"Eu e o Victor não fazemos uma música pensando só no intuito comercial. O objetivo não é só esse, mas tem que se pensar nisso também. De certa forma, se a gente quiser fazer parte desse movimento, a gente tem que se preocupar um pouco com isso também", afirma Léo.
Questionado se a dupla está traindo a música caipira, Victor rebate: "A música caipira é minha mãe, então enquanto filho dela, a música que eu fizer virá dela, vou continuar assim".
A demanda por apresentações de Victor e Léo em todo o país tem sido tão intensa que, se quisessem, poderiam fazer um show por dia. Depois de batalhar durante 15 anos cantando em barzinhos, vivem hoje um reconhecimento que não é só do público, mas também de músicos e colegas. Suas músicas misturam pop com uma pitada de sertanejo de raiz.
Para Victor e Leo, a vantagem da dupla é saber atender o público com coisas novas, mas sem se esquecer da face mais antiga da música caipira.
Fazendo mais de dois shows por semana, há mais de 20 anos, Renato Teixeira é hoje um caipira reconhecido e requisitado. Ao lado de Sérgio Reis, Almir Satter e Rolando Boldrin, faz parte dos quatro ases da música caipira. Desde o começo vinculado à viola, Renato diz, no entanto, que tudo tem seu tempo: "A música caipira como a gente cohecia já foi, foi pro Olimpo, onde ficam as coisas magníficas. Ali no final dos anos 60, começo dos 70, ela já tinha cumprido o ciclo, porque tava vindo muito forte a MPB".
Renato, então, decidiu usar tudo que conhecia de MPB para enriquecer suas composições caipiras: "O primeiro resultado positivo foi Romaria, com Elis Regina, que ajudou a quebrar o preconceito contra a música caipira".
O músico acredita que, além da influência da MPB na música de raiz, o que deu origem ao “sertanejo moderno” foram duplas que mudaram o jeito de cantar e de se vestir nos anos 70, como Léo Canhoto e Robertinho, que apareciam de moto, falando em cowboy e xerife. E outras, como Zezé de Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, João Paulo e Daniel, que souberam transformar suas apresentações em mega-espetáculos, com riqueza de instrumentos e efeitos visuais e sonoros, um pioneirismo atribuído a Chitãozinho e Xororó.
Criando novos estilos, inventando nomes e até mesmo se reinventando, a música caipira continua em alta, cem anos depois de seu primeiro disco. Apesar de contestada pelos mais conservadores, a fase atual continua com mais sucesso do que nunca.
Para Renato Teixeira, seja no sertanejo moderno, seja em qualquer outro gênero, os bons ficarão, os medíocres se perdem na estrada e o tempo é que faz a seleção: “O Brasil nunca vai perder musicalmente. Nós podemos perder no futebol, mas na música nós não vamos perder nunca, principalmente dos alemães”.
Fonte: Globo Rural / Por José Hamilton Ribeiro