Ao G1, eles comentam referências que vão do cantor ao 'sertanejo de raiz'. 'Não iremos elevar a condição de irmão a obrigação profissional', diz Victor.
Falta pouco para a dupla mineira Victor & Leo completar 20 anos de carreira, 15 deles nos palcos apertados de barzinhos, como fazem questão de ressaltar. Os dois irmãos aproveitam a entrevista que tem como gancho o lançamento do disco "Amor de alma" para listar (e explicar) referências que vão do canadense Neil Young ao Trio Parada Dura.
Na capa do novo disco da dupla sertaneja, Victor (esq) e Leo andam a cavalo (Foto/ divulgação)
Durante o bate-papo em um hotel em São Paulo, eles questionam o uso do termo sertanejo ("Não adianta colocar bota, chapéu e fazer pop") e contam que já conversaram várias vezes sobre um possível fim da parceria. Leia a entrevista da dupla ao G1:
G1 - Sempre quando se pergunta sobre o novo sertanejo, é uma unanimidade dizer que ele é mais urbanizado. E vocês aparecem com cavalos na capa do novo disco. Como foi essa ideia, o que essa escolha significa?
Victor: A palavra “sertanejo” advém de “sertão”. Se não for assim, não tem sentido. Se a pessoa não sabe minimamente o que é bucolismo ou não sabe vivenciar o sentido disso, ela não está fazendo música sertaneja. Não adianta colocar bota, chapéu e fazer rock ou pop. Sem nenhum tipo de ligação com o sertão, você está fazendo outra coisa. Isso aqui a gente faz desde criança [aponta para a capa do disco]. A ideia foi fazer uma capa natural. Não precisava ser bonita, nem photoshop tem. As golas estão desarrumadas. É do jeito que uma pessoa fica ao montar um cavalo. Se hoje uma pessoa disser que gosta de sertanejo, não sei do que ela gosta. Tem gente que está seguindo apenas uma fórmula.
G1 - Há muito de forró no disco, e vocês o definem como '80% dançante'. O CD é menos romântico?
Leo: O anterior, “Boa sorte pra você”, não era para ser colocado em um churrasco. Coloco mais no carro para viajar. É lento, melancólico. A gente estava cansado, estressado. Assim, você quer ouvir uma coisa mais calma, se enfiar no quarto, ficar “de boa”. Aí tiramos férias de três meses. A gente veio cheio de gás. No estúdio, o astral foi muito bom.
Victor: Esse novo disco tem meu violão, acordeão, bateria, contrabaixo e percussão. Acabou. Ele é extremamente cru. É produzido, dirigido, arranjado, interpretado e tocado por nós.
G1 - Na faixa-título há um quê de pop rock. Esse lado sempre esteve na sua obra. Dinho, do Capital Inicial, já disse que vocês souberam fazer uso do pop que fez sucesso nos acústicos MTV. Bandas venderam muito com esse projeto, mas agora vocês que vendem. Há um pouco dessa sonoridade nas suas músicas?
Victor - Eu não ligo muito a isso intrinsecamente, embora todos os Acústicos MTV sejam os meus prediletos. Desde o Eric Clapton que fez o primeiro, né? Mas fazemos isso naturalmente há muito tempo, mesmo quando a gente não tinha DVD para assistir e não tinha notícia de Acústico MTV. Em 1993, todo mundo tinha fita cassete. Eu pegava e fazia uma seleção com as minhas músicas prediletas. Eu punha uns nomes como “Apaixonado mil por hora” na fita. E daí começava... “What can I do / What can I say” [Victor imita a voz de Neil Young em “Already one”]. Aí quando acabava Neil Young começava Trio Parada Dura, “Barco de papel”. Aí vinha “Money for nothing”, do Dire Straits. Eram muitas referências misturadas, mas a principal era a música sertaneja de raiz.
G1 - E o que tem de Neil Young nas músicas que vocês cantam hoje?
Victor - É uma referência. Nossas baladas românticas são folks. Tem uma que se chama “Pensei em você”. A cena da música, a cor dessa música, no Brasil quase ninguém soube entender ou classificar. É folk puro, com R&B. Renato Teixeira [cantor] chegou para nós e falou: “Vocês renovaram preservando a essência. Então, se no Brasil existisse uma música sertaneja que pudesse ser chamada de folk, seria o som que vocês fazem”.
Leo - Não é só a referência para o arranjo, tem a voz. É mais suave, o jeito de cantar do Neil Young tem isso. Nos discos com o Crazy Horse era aspereza pura e depois nos discos mais acústicos ficou mais suave. Mas existem outros que nos agradam: Eagles, Simon & Garfunkel, James Taylor. Temos a característica de cantar aveludado.
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G1 - Vocês regravaram músicas populares. Como foi a escolha?
Leo - Criamos um vínculo de sentimento com algumas músicas. Por isso, a gente regrava. Cantamos muito “Passe livre”, “Fuscão preto” e “Sexy Iemanjá” em bares. São especiais. Não buscamos hits no passado, é uma escolha afetiva.
Victor - Eu me lembro bem de “Fuscão preto”. Tinha sete anos. Eu tenho a cena clara de estar com meu pai, familiares, todos dançando, outros bebendo e rindo. E “Fuscão preto” comendo solto no fundo. Quando eu ouço, eu volto para lá. É quase como se fosse a goiabada com queijo que a sua avó fazia. Hoje quando como, estou comendo aquele momento. É um portal para aquele momento bom.
G1- Em 2012, vocês completam 20 anos de dupla. Vocês estão cada vez mais perto dos 25 anos. Rick & Renner se separaram no 25º aniversário e Bruno & Marrone tiveram problemas. Melhor tomar cuidado com a maldição dos 25 anos.
Leo - [Risos] Boa dica, cara. Mas ainda bem que faltam cinco anos...
Victor - É sério isso, maldição? [Risos] Já tivemos crises de contestar o porquê de estarmos juntos. Foram várias conversas no decorrer da carreira. Não podemos elevar a condição de irmão a uma obrigação profissional. A gente só canta junto porque quer. Depois que a gente incorporou esse pensamento, ficou mais confortável. Eu me sinto agradecido. Eu tenho o sentimento de gratidão por ele existir quando estou no palco. Vamos supor que aconteça um acidente e um dos dois morra. Não sei se vou continuar a cantar. Talvez pare mesmo.
Leo - Eu pararia na hora. Não vamos continuar a falar disso não, eu vou chorar.
Victor - Quando estiver no fim da vida, quero olhar para trás e ver que a minha intenção era fazer a diferença na vida de alguém. Não pode ser por um motivo vago.
FONTE: G1