Sem meias palavras, Victor e Leo contam tudo o que rolou nos bastidores da gravação do novo CD, Viva Por Mim.
Sertanejo, folk, MPB, rock, AOR, pop. Não importa a classificação que se dê ao som produzido por Victor & Leo. Trata-se de uma dupla e ponto final. Tentar compreender em que rótulo os irmãos mineiros se encaixam é um exercício pouco recomendado. Primeiro porque a dupla é reconhecida justamente por não se prender a um só gênero. Ao mesmo tempo que grava sertanejo, não deixa de experimentar sonoridades mais pesadas, como o hard rock, ou menos óbvias, como r’n'b. E as experiências não soam forçadas, como se a dupla estivesse atirando para todos os lados no intuito de agradar o maior número de pessoas possível. Pelo contrário. Independente do estilo que grava, a dupla impõe suas características sem soar forçado.
Isso é fruto da influência musical variada dos irmãos. Victor & Leo são fãs de sertanejo, claro, mas não é só. Neil Young, Buddy Guy, John Lee Hooker, Alceu Valença, Guns’n Roses, Dire Straits, Phil Collins e muitos outros entram na lista de artistas admirados pela dupla. “Por isso que para nós é natural gravar músicas que soam diferentes entre si dentro de um mesmo disco. Não sei se somos uma dupla sertaneja que toca rock ou roqueiros que tocam música sertaneja”, confessa Leo.
No novo disco, “Viva Por Mim” (Som Livre), é fácil notar essa postura. Além do folk e do sertanejo, há hard rock, soul e r’n'b no repertório. Lançado em dezembro, o CD é o mais diferenciado da carreira da dupla. Além das influências diversificadas, Leo participou mais ativamente na criação de letras e músicas. “Sempre produzimos em parceria, mas dessa vez criei umas coisas sozinho. As vozes também foram trabalhadas de forma diferenciada, explorando backing vocals e os tons médios”, comenta Leo.
Até mesmo entre os convidados a diversidade predomina. No disco, há a presença de sertanejos de gerações e estilos diferentes, como Jorge & Mateus (“Guerreiro”), Bruno & Marrone (“Eu Vim Pra Te Buscar”) e Almir Sater (“Tudo Bem”). Na entrevista a seguir, a dupla dá outros detalhes sobre o disco, comenta a ida para a Som Livre e opina a respeito da música sertaneja.
Revista Sucesso! – Por que a participação maior do Leo na parte criativa?
Leo - Na verdade, em todos os nossos trabalhos, produzimos e arranjamos tudo em conjunto. É uma característica nossa, mesmo quando compartilhamos a produção com outros profissionais. Porém, essa é a primeira vez que tanto o Victor quanto eu criamos algumas coisas sozinhos. De uns dois anos para cá, resolvi começar a escrever, colocar no papel versos sobre relacionamentos anteriores e o atual. Acabou dando certo. Foi uma descoberta interessante para mim como artista. Comecei a mostrar pro Victor essas letras no começo do ano e ele me encorajou a continuar.
E como vocês chegaram à conclusão de arranjar as músicas com roupagens menos óbvias?
Victor - A base de criação foi toda folk, mas colocamos hard rock, rock, soul music, r’n'b e sonoridades regionais como roupagens para as músicas. Mas não é nada realmente novo. Na verdade nosso trabalho sempre foi assim. Desde o início as pessoas estranhavam nosso som por não ter ouvido nada semelhante antes. Sempre ficavam em dúvida sobre qual é o nosso gênero. Temos um pé no sertão e outro no pop. Temos uma identidade própria. Somos caipiras, mas nossa música não é só sertaneja. Nunca foi.
Falem sobre as influências nos trabalhos da dupla?
Victor - Temos influências demais. A música sertaneja mesmo é diversa. Ela tem a linguagem regional, com Renato Teixeira e Almir Sater, paraguaia com Milionário & José Rico, cabocla, com Tião Carrero e Pardinho, entre outras. Mas não podemos nos considerar apenas sertanejos porque também ouvimos Neil Young, Buddy Guy, John Lee Hooker, Alceu Valença, Guns’n Roses, Dire Straits, Eagles, Phil Collins… Com todas essas influências, fomos misturando. O Renato Teixeira nos definiu como folk. E é isso que somos.
Leo - Não sei se somos uma dupla sertaneja que faz rock ou roqueiros que tocam música sertaneja.
Nesse disco, vocês também trabalharam as vozes de uma forma bem peculiar, certo?
Leo - A gente sempre está mudando. Não temos nenhum disco que possa ser comparado ao outro. Eu, particularmente, subi um pouco o tom das canções. Sempre cantei muito aveludado e nesse disco canto com a voz um pouco mais média. Também experimentamos a inserção de backing vocals. Inovar é uma característica super bem vinda. É importante ter a capacidade de se reinventar, como a Madonna e o Capital Inicial, que desde a década de 80 renascem constantemente.
“Guerreiro” é uma música que parece ter sido composta para a Copa do Mundo. Existiu essa intenção?
Leo - A ideia não é que ela se transforme em um hino do evento. Tem mais a ver comigo, que sou hiperativo e sempre pratiquei muitos esportes desde a infância, inclusive futebol. Esporte é uma paixão minha.
Falem sobre a ida da dupla para a Som Livre.
Victor - Estávamos bem na Sony, mas buscávamos novos desafios. A Som Livre tem capacidade para desenvolver trabalhos de forma completa no Brasil – por isso a parceria. Pra gente não é problema estar numa gravadora com vários sertanejos, pois temos uma linguagem tão própria que não vemos nossos colegas como concorrentes. Não importa onde estamos inseridos – temos identidade e qualidade para se destacar.
Nos últimos dois anos, o sertanejo viveu a era da música de balada. Como avaliam esse período?
Victor - Não dá para saber se essa onda foi boa para o sertanejo. O tempo vai mostrar isso. A única coisa negativa que vejo nessa história é a falta de originalidade. Mas é normal que a música evolua. E com o sertanejo não seria diferente. Não dá para estagnar e esperar que até hoje os artistas toquem sertanejo com viola.
Vocês ainda são reclusos e evitam falar da vida pessoal?
Victor - Num primeiro momento, me preocupava mais com as fofocas. Hoje conquistei o respeito das pessoas. A mídia já entendeu que estamos aqui para falar da nossa vida profissional. Vida pessoal é pessoal.
Leo - Eu concordo com o Victor, mas não vejo tanto problema em falar da vida pessoal. Se somos influência positiva para a sociedade, não creio que seja ruim falar um pouco sobre a vida privada.
Victor, você sempre escreve pensamentos e textos na internet. Nunca pensou em publicar um livro?
Victor - Já recebi convites para escrever um livro e também para compilar crônicas que postei na internet. Mas ainda não tive tempo para levar esse assunto adiante. Vontade eu tenho, mas falta tempo para organizar isso. Uma outra ideia que gostaria de desenvolver é a criação de um livro infantil, com ilustrações minhas. Quem sabe um dia.
ESTRUTURA COMPETENTE
Há muitos anos que os grandes escritórios do show business brasileiro não se concentram apenas no Rio e em São Paulo. A descentralização desse mercado é uma realidade, que pode ser confirmada com a localização de empresas importantes e imponentes, como o Clube do Cowboy.
Montada e gerida há cerca de 20 anos em Uberlândia, a empresa está sediada nessa cidade por um forte motivo: logística. Uberlândia situa-se no Triângulo Mineiro e está muito próxima das divisas de São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Ou seja, está em Minas, mas ao lado de outros três estados importantes para o segmento sertanejo. Essa escolha, aliada ao profissionalismo da equipe do Clube do Cowboy, foram fatores preponderantes para a consolidação no mercado de shows. Atualmente, a empresa atende a diversas prefeituras e sindicatos rurais pelo país. “No total, organizamos mais de 200 eventos no ano. Como temos contato muito positivo com escritórios artísticos, conseguimos comprar e vender shows sempre com condições justas”, comenta Marcelo Mu, que, ao lado de Alexandre Melo, comanda o escritório.
Além desses números representativos, o Clube do Cowboy destaca-se também na produção de shows de Carnaval. São eventos espalhados por 22 cidades, com rodízio de bandas entre as localidades. “Antes, uma banda se apresentava quatro, cinco dias no mesmo município. Nós implantamos o sistema de rodízio, fazendo com que as bandas se alternem nas várias cidades onde organizamos os shows de carnaval. Além de atrair mais público por oferecer sempre um show diferente, damos a oportunidade à banda de se projetar em vários municípios”, explica Glênio Mundim.
Porém, a grande franquia da empresa continua sendo o festival itinerante Cowboy Forever. Com 17 anos de existência, funciona com grade que inclui artistas de vários escritórios e com uma mistura interessante de nomes consolidados, emergentes e músicos antigos.
Mais do que organizar os eventos, hoje o Clube do Cowboy oferece outros serviços na área de produção de shows. Busca de patrocínio para prefeituras e sindicatos rurais, organização de projetos para captação via Lei Rouanet, estruturas de arenas de eventos e editora musical estão no leque de serviços oferecidos pelo escritório. “Victor & Leo já editam músicas por aqui e temos buscado novos talentos para editar com a gente. A ideia é trabalhar com artistas de todo o país e não só com os integrantes do cast da empresa”, adianta Usthane Rodrigues, diretora do departamento.
“MERCADO PRECISA SE PROFISSIONALIZAR”
Sócio-fundador do Clube do Cowboy, Alexandre Melo é um profissional aberto a novidades, mas também crítico. Ele acredita que ainda falta profissionalismo ao segmento de shows no Brasil. Principalmente se comparado ao norte-americano. Confira:
O que falta para o mercado nacional ser menos amador? Nosso mercado cresceu muito, mas de forma pouco profissional, com gente trabalhando mais com a emoção do que com a razão. Temos muitos empresários que não são gestores de carreira no Brasil. Assim, vemos carreiras que acabam precocemente porque o manager não soube calcular custos e otimizar logística para o artista se locomover pelo país. Por isso, já passou da hora de existir um curso superior para formação de gestores na área de entretenimento, além de legislação específica para o setor.
Qual o diferencial do Clube do Cowboy em gerenciamento e estrutura? No Clube do Cowboy e na Vida Boa (empresa criada para gerir a carreira de Victor & Leo) somos muito criteriosos quanto a isso. Tanto que temos avião e hangar no aeroporto de Uberlândia para transportar a dupla. Isso não é ostentação e sim uma alternativa para diminuir custos e facilitar a locomoção de Victor & Leo pelo país. Só resolvemos investir nisso depois que percebemos que iria facilitar nossa logística. Mesma coisa para as carretas, que são de nossa propriedade (só terceirizamos ônibus). A sede da empresa é nossa e estamos investindo em uma arena para shows na região. É preciso pensar em tudo se o empresário pretende ser grande.
Você acha que empresários devem se envolver na área artística? Dar opinião, quando consultado, não é nenhum problema. Mas determinar o que o artista deve fazer não funciona com profissionais sérios e talentosos, como Victor & Leo. Afinal de contas, a parte criativa é reponsabilidade deles. Estou aqui para ajudá-los na área administrativa. Sou dos que ainda acreditam que artista deve se envolver na criação e o empresário, na administração. Interesse pelo trabalho do outro é sempre importante, mas sem ser invasivo.