Victor & Leo são geniais.
Isso é um fato incontestável. Estão entre alguns pouquíssimos artistas
sertanejos que conseguiram criar uma identidade inimitável, um estilo próprio,
que por vezes os fazem ser considerados não-sertanejos pelos mais
conservadores, que acham que a música sertaneja deve ser travada, padronizada,
imutável. E esse estilo próprio conquistado pela dupla reflete-se neste novo
disco tanto nas suas qualidades quanto nos seus defeitos. É que ao mesmo tempo
em que essa preocupação com a manutenção da própria identidade ajuda a realçar
os pontos positivos do disco, também acaba fazendo com que a dupla deixe de
corrigir alguns dos poucos pontos negativos. É o 3º DVD da dupla. Foi gravado
ao vivo na cidade de Florianópolis no dia 28 de março
Em comparação com os outros DVDs
gravados pela dupla, é bem evidente que a dupla quis resgatar um pouco da alma
do primeiro DVD, gravado em Uberlândia em 2007. Primeiro pelo estilo de show,
em local aberto e para um grande público. Em Uberlândia, 30 mil pessoas
assistiram a gravação. Em Floripa, segundo informações da polícia militar de
Florianópolis, nada mais nada menos que 200 mil pessoas!!! Trouxeram de volta,
também, o mesmo diretor do primeiro DVD, Santiago Ferraz, que desta vez não se
limitou apenas ao feijão com arroz do LED atrás do palco, como costumeiramente
faz. Um cenário com setas cenográficas, violões e outras coisas, todas
abarrotadas de lâmpadas coloridas, concebido pelo Zé Carratu. A bem da verdade,
o cenário lembra muito o do DVD “Na Balada”, do Michel Teló.
E se em outros trabalhos a dupla
convidava no máximo um ou dois artistas para gravar alguma participação, neste
as participações estão presentes em pelo menos metade das músicas. Zezé di
Camargo & Luciano em duas canções, Chitãozinho & Xororó em três, Paula Fernandes
em duas, Pepeu Gomes em uma, Tiaguinho em uma, Nando Reis e Haroldo Ferretti
(baterista do Skank) em outra. Curiosamente, achei (questão apenas de gosto
pessoal) a música “Beijo de Luz”, com Chitãozinho & Xororó, mais a cara de
Zezé di Camargo & Luciano e a música com Zezé di Camargo & Luciano,
“Quando você some”, mais a cara de Chitãozinho & Xororó.
Duas participações, entretanto,
têm um significado um pouco mais profundo. A cantora Nice, que a dupla conheceu
num desses camarins da vida enquanto ela buscava uma chance de mostrar seu
talento para eles, conquistando-os com sua voz (que lembra bastante a da Paula
Fernandes), mandou benzaço na música “Sem negar”, de autoria dela. E o cantor
Marciano (que também cantou a canção “Se eu não puder te esquecer”) foi
homenageado por Victor & Leo, Zezé di Camargo & Luciano e Chitãozinho
& Xororó durante sua participação na música “Ainda ontem chorei de
saudade”. Uma triste coincidência: o antigo parceiro do Marciano, João Mineiro,
morrera 4 dias antes da gravação deste DVD, o que torna esta homenagem ainda
mais significativa.
Interessante ver, novamente, a
dupla fazendo experimentações. No primeiro DVD, apenas violões e acordeon nos
arranjos. No segundo DVD, a banda ganhou o acompanhamento de um hammond, que
foi utilizado em mais um trabalho posterior. No terceiro DVD, excluíram o
hammond e colocaram pela primeira vez uma guitarra ajudando a compor as
harmonias e alguns dos arranjos. Entretanto, os volumes aplicados na mixagem da
guitarra e do acordeon ficaram um pouco aquém do esperado. A guitarra, apesar
de em algumas músicas estar num volume bacana, em outras, como na música de
trabalho “Não me perdoei”, poderia ter sido mixada de uma forma mais pesada.
Mas enfim, é tudo uma questão de preferência. Victor & Leo sempre mostraram
preferir um som mais simples, mais acústico. Talvez por isso o volume não muito
alto da guitarra. A utilização de elementos como este nos trabalhos deles chega
a ser ousada.
Mas o volume do acordeon, que
durante todo o DVD ficou num nível bem baixo se comparado aos demais
instrumentos, poderia realmente ter ganhado alguns “centavinhos” a mais na
mixagem. Até porque este disco, assim como o “Amor de Alma”, procura deixar o
show da dupla Victor & Leo mais agitado, com algumas canções inéditas na
linha dançante, inclusive, coisa que só tinha acontecido no disco “Amor de
Alma”. Essa “economia” no peso da guitarra e do acordeon, entretanto, não foi
percebida na mixagem dos instrumentos utilizados por algumas das participações.
A guitarra do Pepeu Gomes, por exemplo, ficou bem marcante. O mesmo pode ser
dito na gaita gravada pelo Gabriel Grossi (primo da dupla) na canção “Altas
Horas”, que contou com a participação do Nando Reis.
Agora uma coisa que é importante
destacar sobre este disco é a altíssima qualidade das letras das músicas
inéditas. Não que as letras do Victor já não fossem incríveis. Mas nos dois
discos anteriores, pelo menos, convenhamos que algumas canções deixaram a
desejar com relação ao conteúdo poético em comparação com boa parte das canções
de Victor & Leo. Neste DVD, entretanto, as canções inéditas foram todas
muuuuuito bem escritas e com uma harmonia muito bem aplicada. Sei lá se o
Victor sofreu alguma decepção amorosa nesse meio tempo, hehe, mas de fato ele
estava muuuuuito inspirado quando escreveu estas músicas. Curiosa também é a
interpretação do Leo, que cantou com um sotaque carregado em algumas músicas,
com o “S” meio “acariocado”, se é que podemos dizer assim. Mas isso só ressalta
a qualidade e autenticidade da interpretação ao vivo. Não vejo como um defeito.
A opção pelo som mais cru, que de
fato condiz com a preocupação deles em não perder os elementos que destacam sua
a identidade, talvez seja um pouco arriscada, já que o áudio do disco, de uma
forma geral, fica mais simples do que a gente costuma ouvir. Em termos de
competitividade e de qualidade técnica (não de arranjos e harmonias, ressalto),
talvez este disco esteja um pouco aquém dos discos que estão sendo lançados
ultimamente. Em outros tempos, principalmente quando eles se destacaram para o
Brasil, quando o som sertanejo passava por uma fase mais simples, com maior
valorização de violões, essa opção era de fato a mais inteligente. Hoje em dia,
com a volta das mega produções, das masterizações mais pesadas e agressivas, Victor
& Leo fazendo um som cru soa despreocupado. Não que isso seja ruim. Só
demonstra, de fato, que eles alcançaram a maturidade profissional que
pretendiam. Chegaram num ponto onde não têm mais a necessidade de provar nada a
ninguém e podem fazer o tipo de música que quiserem, com o tipo de som que
desejam. Não se preocupam mais tanto assim com o mercado. Afinal de contas, se
já está essa “merda” que tanta gente anda dizendo em entrevistas e tudo mais, o
melhor a fazer talvez seja mesmo deixar o povo se matando e correr por fora
fazendo o seu sem entrar no meio da briga.
Nota: 9,0
FONTE: BLOGNEJO.
FONTE: BLOGNEJO.
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