André Piunti
Do Uol, em São Paulo
A dupla Victor e Leo lançou, na
última semana, seu novo CD, "Ao Vivo em Floripa". Gravado em
Florianópolis, o DVD está previsto para o início de agosto.
Em entrevista ao UOL, a dupla
explicou a escolha da cidade para o registro do DVD, já que há outras com mais
tradição na música sertaneja, comentou sobre os convidados que participaram do
projeto - no total, foram 8 -, e sobre a atual situação da música sertaneja,
mais em evidência do que nunca, mas que segundo Victor, passa por uma fase
"caótica".
Se comparado aos outros dois
DVDs, o de Floripa é o mais despojado, o que mais se aproxima do show, sem
correções, com vocês brincando o tempo todo. A imagem mais séria que a dupla
sempre passou agora vai dar espaço a dois caras mais desencanados?
Victor - Não é que seja isso.
Cada dia é um show diferente, em um a gente está animado, outros a gente está
cansado, varia muito. O principal ponto é que o DVD é um show a ser registrado,
e nesse caso de Floripa, foi uma apresentação muito para cima, muito animada, e
o registro saiu assim. Quem frequenta nossos shows já viu outras apresentações
como essa. E o lance é ser cru mesmo, sem mexer nas músicas depois ou utilizar
alguma gravação pré-pronta. Você pode reparar até que saem algumas notas
mastigadas no violão, e a gente acha isso muito legal, mostra de verdade como
foi a apresentação.
Leo - Nós somos muito
autocríticos, a vontade de melhorar é algo muito presente na gente. Nós ouvimos
gente da equipe, da produção, perguntamos para pessoas de fora, ouvimos
opiniões com o intuito de melhorar. A gente pensa muito naquilo que a gente
ainda pode conquistar, e não no que a gente já conquistou. Acho que isso pesou
para que o trabalho fosse positivo.
O momento mais marcante do DVD,
pelo menos para quem gosta de sertanejo, é quando vocês reúnem Chitãozinho e
Xororó, Zezé e Luciano e o Marciano no palco. Em alguns momentos, nota-se que
vocês até somem de cena e ficam assistindo…
Leo - Cara, era isso mesmo. A
gente virou espectador. Quem cresceu ouvindo eles fomos nós, e não o contrário.
Nós éramos os anfitriões, mas eu não queria cantar, eu só queria escutar
aqueles caras ali cantando do meu lado. Mais que um sinal de respeito, era a
vontade de aproveitar aquele momento único. Eu só falava "agora o Chitão,
agora o Marciano", eu queria mesmo é ficar olhando.
Porque Floripa?
Victor - Nós já fizemos grandes
shows no Sul, inclusive em Floripa, e não foram poucas as vezes, isso sempre
nos despertou atenção. A gente já tinha pensado em gravar algo lá, mas era só
uma ideia. Um dia, sobrevoando a cidade, nós chegamos a conclusão de que o DVD
seria ali e já começamos a produzir tudo, pensar em tudo. Tínhamos 20 dias para
pensar em tudo, e conseguimos fazer a tempo.
Leo - Eu acho que foi o melhor
show que eu já fiz. O tempo em Floripa, até um dia antes, tava ruim, chovendo,
nada animador. No dia do DVD o céu ficou limpo, não choveu nada, saiu tudo
perfeito. Acho que tudo conspirou para que a gente conseguisse fazer exatamente
o que tava programado.
Nos outros trabalhos da dupla, o
número de participações sempre foi pequeno. No novo DVD, foram oito convidados.
Qual o critério de escolha para tantos artistas?
Victor - Foi questão de
identificação com os artistas. Todos ali têm nossa admiração, e as músicas, na
nossa opinião, combinavam muito com cada artista escolhido. Cantaram com a
gente o Chitãozinho e Xororó, Zezé e Luciano, Marciano, Paula Fernandes,
Thiaguinho, Pepeu Gomes, e uma moça nova chamada Nice. Nenhum convidado foi à
toa. Ainda teve o Haroldo, do Skank, e o Gabriel Rossi, na gaita. Uma história
boa é sobre a participação do Chitãozinho e Xororó. Nós decidimos convidá-los
para gravar dois dias antes, eles participariam de "Fio de Cabelo",
que estava no repertório. Toparam. Só que a gente desligou o telefone e pensou:
porque não gravar uma inédita com eles? Ligamos de novo e eles toparam, apesar
de também acharem que o tempo era muito curto. Resultado é que eles chegaram
dois dias depois prontos, com a música quase toda pronta na cabeça,
profissionalismo total.
A próxima música de trabalho vai
ser "Quando Você Some", gravada com Zezé di Camargo e Luciano?
Leo - Ainda não dá para te
responder não, a gente está decidindo, mas ela está na frente sim. Uns 90% que vai
ser essa. Nós estamos também aproveitando para ouvir os comentários, ver a
resposta das pessoas, principalmente no show. A resposta de quem já ouviu o
disco também é importante, nos ajuda na discussão. Como ainda tem um tempo para
virar a música nova, então a gente não fechou 100%.
Vocês não eram próximos do Zezé e
do Luciano…
Victor - Não, nós não tínhamos
quase nenhuma relação, até que fomos convidados para cantar no "Altas
Horas" que foi feito em homenagem aos 20 anos da dupla. Ali, conhecemos os
caras mais de perto, e os encontramos várias vezes em camarins, programas, e o
laço foi estreitando. Na hora de escolher a música, achei a cara deles.
Desde que surgiram fazendo
sucesso, cinco anos atrás, vocês nunca deixaram de fechar um ano pelo menos com
uma música entre as dez mais tocadas. No mesmo período, ninguém ganhou mais
dinheiro com composição do que o Victor. Como vocês veem a atual corrida atrás
de hits, que tem resultado em uma série de "tchu, tcha, tcherere",
alvo de diversas críticas?
Victor - Acho que tudo tem que
ser respeitado. Não existe escolher algo para respeitar, você tem que respeitar
tudo, independentemente do gosto. Música é uma expressão sua, e a forma com a
qual você se expressa pode mostrar quem você é. Esse talvez seja o ponto a se
prestar atenção. Eu já compus coisas que eu ouvi e percebi que jamais gravaria,
que não tinha o perfil da mensagem que eu gostaria de passar.
Só que falando claramente, a
realidade é que, no momento, o sertanejo vai muito mal, completamente em baixa.
O momento da música sertaneja é caótico. O termo sertanejo está lá em cima, a
música está lá no chão. Pelo que nós sabemos, o conteúdo poético é presente na
história da música sertaneja, e hoje ele está praticamente morto. Nós tentamos
segurar as pontas, fazer nossa parte, colocar um traço poético nas nossas
letras. Só que o mercado está atrás de sucessos extremamente fáceis, e isso
está sendo a bola da vez. Nós não embarcamos nesse mercado. Quem não sabe de
onde veio, não sabe onde está.
Essa nova onda de músicas mais
fáceis nunca incomodou vocês? Ou atrapalhou na criação de um novo trabalho? Não
existe ao menos uma pequena pressão do mercado?
Leo - Pode até existir, mas não
muda nosso trabalho. Desde que começamos a cantar, nós só escolhemos gravar
músicas que nos emocionam, independentemente do que estão gravando. Nós
crescemos ouvindo Trio Parada Dura, Zezé di Camargo e Luciano, Gian e Giovani,
Chrystian e Ralf… nós nunca nos incomodamos profissionalmente com novos
artistas ou músicas, nós só fazemos nossa parte e seguimos com nosso trabalho.
A gente já gravou coisas diferentes, já gravou reggae, misturou outras
influências, mas lembrando sempre que a principal intenção é emocionar.
Nas últimas semanas, sertanejos
se manifestaram criticando o mercado, um deles foi o Jorge, do Jorge e Mateus,
que chamou o meio de "podre". Vocês também veem assim?
Leo - Eu entendo o que ele quis
dizer… de fato, hoje se compra tudo, e sem muito dinheiro você não faz nada. O
cara compra a rádio, a festa, a exposição, a música, compra tudo. Só acho que
isso não é novidade e é uma realidade da vida, não só do mercado. O capitalismo
força a isso, são situações que acabam se tornando naturais. Eu acredito no
tempo. O tempo vai mostrar para nós mesmos quem é verdadeiro.
Victor - Isso é da vida, é de
qualquer mercado. Quando você põe seu filho na escola, você tem que ensiná-lo o
justo, o que é certo ele fazer, pois sempre vai ter gente fazendo coisa errada.
Em qualquer trabalho vai ter gente querendo te derrubar. Quando a gente tocava
em boteco, acontecia muito, era até pior. Se a gente chegasse cinco minutos
atrasados, já tinha dupla lá tocando no nosso lugar, e pior, até com nossos
instrumentos. É uma realidade, pode incomodar, mas a vida é assim.
FONTE: UOL MÚSICA.
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