Imagem de uma máquina para copiar CD's em grande escala
Importante fonte de renda para a indústria fonográfica até o
começo da década passada, o CD ganhou outra (polêmica) função dentro do mercado
sertanejo do Brasil nos últimos anos. De elemento central na estratégia de
vendas, o disquinho compacto barateou a ponto de ser usado como material de
divulgação, um tipo de “panfleto” para artistas – que, apesar de não tocarem
abertamente no assunto, geralmente se aproveitam da prática.
A distribuição em massa de CDs promocionais deu certo
primeiro no Nordeste brasileiro, e depois se tornou fundamental para artistas
sertanejos, tanto iniciantes quanto consagrados.
“No Nordeste, como as bandas de forró são independentes, a
distribuição não é problema pra ninguém”, diz o empresário Pedro Mota, que
trabalhou com o Calypso por sete anos.
É diferente do mercado sertanejo, onde muitos artistas estão
associados a grandes gravadoras. “Nesse caso, é preciso uma ‘política de boa
vizinhança’. Deixá-las lançar primeiro, fazer o dinheiro delas, aí mandar
copiar os seus e distribuir. CD hoje é panfleto”, diz Mota, atualmente
empresário da dupla César Menotti e Fabiano.
Enquanto as editoras fazem “vistas grossas”, já que a
técnica vai a contramão de seu próprio negócio (a venda de CDs), duplas de
sucesso chegam a distribuir 1 milhão de discos por ano em rodeios, shows e por
meio de carros que rodam o país fazendo promoção.
Fábrica de cópias
O produto é diferente do encontrado nas prateleiras das
lojas. Para baratear seu custo, que varia entre R$ 0,60 e R$ 0,80, dependendo
do tamanho do pedido, o “CD promo” tem capa de papel e não vem com encarte.
Na maior fábrica de duplicação de discos de São Paulo, 1,2
milhão de CDs são gravados por mês, de artistas grandes e pequenos. O mercado
sertanejo corresponde a 90% dos pedidos, e os outros 10% vêm do samba, gênero
que já começa a olhar pra esse tipo de divulgação.
Márcio Straface, dono da Triplica do Brasil, conta que o
barateamento do serviço fez com que a distribuição de CDs promocionais se
tornasse uma das formas de divulgação mais em conta do mercado: “O número de
cópias vai da estratégia do empresário. Se ele tem uma dupla pequena e dinheiro
curto, pede 20 mil, 30 mil, e distribuiu para parceiros, rádios ou nos shows da
dupla”, diz Straface. “Um artista grande, conhecido nacionalmente, com
gravadora ou não, faz 200 mil, 300 mil de uma vez. Com R$ 60mil, você tem 100
mil CDs.”
Straface, que também é empresário da dupla Geovany Reis e
Fabrício, conta que, para o artista iniciante, os CDs são de “extrema
importância”. “Você não tem dinheiro pra competir com os grandes em shows, em
rádio, e não tem gravadora, então ter CDs a um preço baixo é fundamental,
ajudou muita gente pequena a ganhar espaço nos últimos anos”, diz. “É muito
difícil você entrar na mídia tradicional, custa muito caro.”
Problemas legais
O advogado Thiago Ladeira explica que em alguns casos o artista
não pode ser o único a autorizar a reprodução de um CD, já que o fonograma (som
gravado no disco) costuma ser propriedade das gravadoras.
“Pela lei, a utilização de qualquer obra depende da
autorização do titular. Os fonogramas, na maior parte das vezes, são das
gravadoras. Então, se elas não autorizarem a reprodução, copiar o CD se torna
uma violação”, diz Ladeira.
O advogado afirma que as fábricas copiadoras devem ter
“cautela”. “É preciso autorização para evitar problemas maiores. Se comprovada
a prática ilegal, os envolvidos podem, por exemplo, perder o material
produzido, o dinheiro conseguido com a prática, além de responder por outros
danos.”
Máquina de copiar CD's é vista com detalhe, a distribuição gratuita virou tendência no mercado
Oposição
Pedro Mota, empresário de César Menotti e Fabiano, diz ser
difícil um artista fugir das cópias gratuitas. “Quase todo mundo adotou, um ou
outro é contra. E mesmo sendo contra, é difícil escapar. É comum um
contratante, quando compra um show, copiar mil ou dois mil CDs para divulgar a
festa pela região”, diz Mota.
Poucos artistas topam falar sobre o assunto. A dupla Victor
e Leo e a cantora Paula Fernandes são exemplos de opositores desse tipo de
promoção gratuita.
“Pra nós, este produto aqui [o CD] tem valor. Dedicamos
nosso tempo a ele, e outros profissionais se dedicaram pra que ele saísse da
melhor forma possível”, diz Leo.
“Todos trabalham do jeito que acham melhor, nós respeitamos.
Mas você jamais vai nos ver distribuindo discos. Quando tocávamos em bares e
essa prática já existia, já éramos contra, não é de hoje. Não se trata de uma
questão financeira, a venda de discos não rende muita coisa. É uma questão de
ideologia. Se alguém baixa nossos discos, copia ou distribui, é outra história.
Eu e o Leo não achamos isso certo”, diz Victor.
Paula Fernandes segue a mesma linha de “valorizar” seu
produto. “Nunca fiz isso [distribuir CDs]. Eu me dedico ao trabalho, há muita
gente envolvida no projeto, é uma dedicação muito grande e dou muito valor. Sei
que as coisas estão mudando e vão mudar com o tempo, sei que tem gente que
baixa e compra pirata, mas quanto a mim, dou valor ao projeto, compro CD e acho
legal quando dão valor ao nosso trabalho.”
FONTE: UOL MÚSICA / POR ANDRÉ PIUNTI.